Somos, o que escolhemos acreditar

“Hoje, sente e vê o mundo com outros olhos. As borboletas esvoaçam constantemente em seu redor”

REVISTA VICEJAR – LITERATURA ( Crônica )

 


_____E ela acreditava. Mas nem sempre foi assim...  

_____Foram os dias mais negros da sua vida. O seu primeiro amor, partira... drasticamente. O homem, que lhe dera a vida, que lhe pegara ao colo, que a levara à escola e que um dia a levaria ao altar, seu pai.  

_____Nada nos prepara para a morte. Nascemos com ela predestinada, convivemos com ela durante toda a nossa vida e sabemos ser o final do nosso caminho, não há forma de a contornar, seja qual for a direção que tomemos. E, no entanto, não a aceitamos. Não quando sentimos o peito aberto, um dia, talvez...  

_____Viviam noutro distrito, mas o quiseram sepultar na sua terra natal, sua aldeia, no seu local preferido no mundo, onde sabiam que sentia ser parte, e não poderia ser de outra forma. O dia foi doloroso emocionalmente, era cedo demais, é sempre cedo, uma partida inesperada, sem despedidas. Ah, se o soubesse, se o soubéssemos...  

_____Deitou-se na cama de colcha branca bordada à mão, no quarto caiado na casa da avó, fechou os olhos e desligou do mundo. Tinha decidido ficar uns dias ali, também para ela era seu refúgio, e só ali encontrava realmente paz.  

_____Acordou, como se alguma vez tivesse realmente adormecido, é real, foi real, saiu do quarto, e à sua porta vê um louva-a-deus, embora nascida e habituada ao campo, já se sentia mais citadina de vivência, chamou a avó para que pusesse o inseto na rua, não com medo, mas com aquela sensação de meia aversão. Outro dia vazio, outra noite cruel, outro amanhecer...  

_____Levantou-se, hoje ganharia coragem e iria colocar flores. Saiu do quarto, e de novo à sua porta se mantinha um louva-a-deus... Achou a coincidência estranha, embora no campo, o quarto era ao fim do corredor, mas o mesmo inseto? E de novo, foi posto na rua. Colheu flores do jardim e foi ter com ele.  

_____Doía-lhe o peito, sentia-se envolvida num torpor dormente, insensível, já nem conseguia soltar lágrimas, só lhe restava, o porquê...  

_____Tinha colocado uma foto numa moldura e uma jarra provisórias na terra. Baixou-se para colocar as flores, e algo lhe despertou a atenção. E chorou, como se nunca tivesse vertido uma única lágrima antes. Junto à foto de seu pai estava, um louva-a-deus.  

_____Um dia ao folhear uma revista, deparou-se por acaso, com um artigo sobre a simbologia deste e de outros insetos. E sorriu...  

_____Hoje, sente e vê o mundo com outros olhos. As borboletas esvoaçam constantemente em seu redor, libélulas, e em dias especiais lhe aparece um louva-a-deus. Já não lhe causam qualquer aversão, agora, lhes confortam o coração e se sente sempre acompanhada. Há quem lhe chame louca, mas ela é feliz assim.  

_____Cada um, é o que escolhe acreditar, e ela... acredita.  

____ (Uma história real, a minha...)





 

 

 TEXTO: Ana Acto 

FACEBOOK: http://www.facebook.com/anaacto 

Ana Acto, nasceu a 5 de abril de 1979 em Tomar, Portugal. Abriu em 2018 nas redes sociais uma página de autora com o seu nome onde partilha a sua escrita em poesia, prosa poética e reflexões. Escreve-nos sobre a vida, e sobre o amor em todas as suas vertentes, romantismo, perda, esperança e sensualidade. Participante ativa em saraus e tertúlias poéticas e coautora em mais de vinte obras coletivas. Lançou em 2020 o seu primeiro livro de poesia, intitulado “NUA”. Para além do gosto pelas letras, tem diversas formações em terapias holísticas e alternativas.

_______________________________________________________________
A articulista atua como Colaboradora deste Blog e o texto acima expressa somente o ponto de vista da autora, sendo o conteúdo de sua total responsabilidade.

                                                 

Comentários