Anjos sem asas

“Estas histórias são reais, e sei, que ao lê-las se lembrarão de algumas assim, e acredito que em muitas são os protagonistas.”

REVISTA VICEJAR – LITERATURA ( Crônica )


 

“Somos todos anjos de uma só asa; e só podemos voar abraçados uns aos outros”

_____E é de anjos que vos irei hoje escrever. Confesso que tinha outros temas no pensamento, mas este prevaleceu, ou não acreditasse eu, em anjos...

_____Quem me conhece, sabe do meu amor desde sempre, por estes seres de luz. Que me amparam, guiam, e os quais sinto desde sempre, o que me levou a fazer algumas formações em angelologia. Mas vos falarei de anjos sem asas, terrenos, daqueles de carne e osso, com defeitos, medos, dúvidas... humanos.

_____Hoje passei o dia com um desses anjos, alguém que apelido como tal. E, no meu regresso enquanto conduzia, pensava quão realmente abençoada era, por o ter na minha vida.

_____Fui de cabeça cheia de incertezas e coração pesado, e voltei com as mesmas mágoas e problemas, mas... cheia de amor. Por vezes nem são precisas palavras, conselhos ou opiniões. Basta a presença, o silêncio, a mão estendida e acontece essa partilha.

_____Esta mulher me recolhe debaixo de sua asa, tal como a tantos outros, e sei, é esta a missão que lhe foi destinada.

_____E nesta reflexão me lembrei de outra história. Uma mãe que passeava na rua com seus dois filhos, e ao passarem por um sem abrigo, que de braço estendido pedia uma moeda, tirou uma da carteira e lha deu, e continuou seu caminho. Mas ao não sentir os passos dos filhos se voltou para trás e viu... o mais novo abraçava o mendigo. Ao regressar junto dela disse-lhe “deste-lhe uma moeda, eu não tinha nada para lhe dar” então deu-lhe o seu abraço, e acredito, que foi o que de mais precioso aquele homem recebeu nesse dia...

_____Outro anjo que conheço, tem um negócio na restauração aberto, e são imensos os pedidos de ajuda por telefone, e tantos outros no local. Entram e pedem-lhe comida, e ela, lá vai dando dentro do que lhe é possível, aqui e ali. E tenho sabido de outro tanto que faz em segredo. Porque é assim, generosa e humilde. E assim deve ser a caridade, doando, mas respeitando a dignidade de cada um. Numa dessas ocasiões, alguém foi ter com ela, como faz diariamente para lhe pedir comida. Ela preparou, e lhe entregou, e nesse momento entra outro pedinte. O primeiro ao vê-lo entrar, olhou para ela e disse-lhe “Não se preocupe, o que me deu chega para os dois, eu divido com ele”. Conheço esta mulher desde que nasci, e sei, preparou outra refeição e entregou... “Mãos que doam, nunca ficam vazias”.

_____Falei-vos da missão de uma tia minha, do abraço do meu filho mais novo, e da mulher que tenho o privilégio de chamar de minha mãe... Não pretendo de nenhum modo elevá-los, são tão comuns com eu, ou um de vós que me lê.

_____Estas histórias são reais, e sei, que ao lê-las se lembrarão de algumas assim, e acredito que em muitas são os protagonistas. Estes pequenos, grandes gestos de amor, se tornaram a minha religião.

_____Sim... falhamos, magoamos, somos magoados, somos crentes, desacreditamos... somos humanos. Mas dentro do nosso coração, todos temos essa centelha divina. E esse poder em nossas mãos. Uma palavra de conforto, um pedaço de pão, um abraço...

_____Porque “somos todos anjos de uma só asa; e só podemos voar quando abraçados uns aos outros”.

_____E porque afinal, acredito em anjos... 





 

 

 TEXTO: Ana Acto 

FACEBOOK: http://www.facebook.com/anaacto 

Ana Acto, nasceu a 5 de abril de 1979 em Tomar, Portugal. Abriu em 2018 nas redes sociais uma página de autora com o seu nome onde partilha a sua escrita em poesia, prosa poética e reflexões. Escreve-nos sobre a vida, e sobre o amor em todas as suas vertentes, romantismo, perda, esperança e sensualidade. Participante ativa em saraus e tertúlias poéticas e coautora em mais de vinte obras coletivas. Lançou em 2020 o seu primeiro livro de poesia, intitulado “NUA”. Para além do gosto pelas letras, tem diversas formações em terapias holísticas e alternativas.

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A articulista atua como Colaboradora deste Blog e o texto acima expressa somente o ponto de vista da autora, sendo o conteúdo de sua total responsabilidade.

                                                 

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