Cega filosofia

“... o dinheiro que vês correr vida afora mata a fome do corpo e se usado de má fé mata a alma e ao espírito empobrece” 

REVISTA VICEJAR – LITERATURA ( Conto ) 


_____Que as palavras carregam um poder enorme todos sabemos. Mas uma atitude vestida de sabedoria é a glória de um coração humilde e resiliente.  

_____Certa feita, um jovem de boa família e de boas posses, fazia sua caminhada matinal em direção ao seu escritório, quando  de repente um sem abrigo lhe pede uma moeda, o jovem por sua vez com ar de desprezo o ignora.  

_____Mais à frente do caminho um garoto com as vestes sujas e rasgadas estendeu a mão lhe pedindo um pedaço de pão, o jovem ignorando o garoto apressou ainda mais os passos virando na primeira esquina. Desejava terminar logo o percurso, estava um dia um tanto desagradável para caminhar.  

_____E antes que pensasse na inconveniência daquela manhã, uma senhora de idade avançada atravessa seu caminho... o jovem aborrecido e ofegante nem lhe deu a chance de falar, virou o rosto para uma melhor paisagem e sumiu entre os transeuntes mais apressado do que antes.  

_____Ao findar do dia, chegando à casa o pai lhe chama, e vão até ao jardim de onde se tem a mais linda das paisagens e ali começa um desenrolar de palavras e frases.  

_____“Esse dia é uma doação dos céus, a todos que tem na alma a sensibilidade de um saber, que carrega no peito as palavras de um sábio que nunca as cansou de dizer”.  

_____O filho a escutar o pai, com os olhos postos no horizonte não hesitou em perguntar o significado de tais palavras. E o velho sábio então respondeu:  

_____“A fortuna que vos deixo é a sabedoria que vos ensino, o dinheiro que vês correr vida afora mata a fome do corpo e se usado de má fé mata a alma e ao espírito empobrece”.  

_____O rapaz interrompendo-o, pôs-se a explicar: 

_____– Meu pai, esta filosofia eu já aprendi, disseste estas palavras toda a minha vida desde criancinha.  

_____– Não meu filho, você somente as decorou, se tivesse aprendido, não ignoraria a fome do corpo e jamais mataria uma alma, empobrecendo teu espírito vivente.  

_____Sem obras, as palavras não passam de uma cega filosofia! 



 TEXTO: Flaviane Borges  
FACEBOOK: Depois-daqueles-dias 
Flaviane Borges Gomes, nascida aos 25 de setembro de 1981, em Dom Cavati, interior de Minas Gerais. Completou seus estudos na Escola Estadual Profa. Ilma de Lana Emerik Caldeira, em 1999. Despertou gosto pela escrita desde muito cedo, embora tenha um vasto material escrito, dentre poesias, frases filosóficas, textos e afins, o que fez por amor à escrita em seus momentos sós. Participou da Antologia "Arte em Poesia", pela Editora Sol. É autora da "Página depois daqueles dias", que leva o nome do seu primeiro livro a ser publicado em breve. Hoje luso-brasileira, reside em Portugal, onde continua sua jornada no mundo da escrita.
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