Prenda de Natal? Um par de meias, indiscutivelmente…

"E como gostaria tanto de voltar a receber um par de meias... nem que nunca mais recebesse qualquer outra prenda de Natal. Bastava-me um par, vindo de suas mãos, porque estaria aqui, ainda, entre nós."


REVISTA VICEJAR – LITERATURA ( Crônica )



_____Um destes dias, a caminho do trabalho, vinha a ouvir a rádio M80, como habitualmente, e a humorista fez uma brincadeira. Fez duas perguntas daquelas “preferias isto ou aquilo” e deu a escolher aos seus colegas e ouvintes. Até aqui tudo muito bem, não fossem as perguntas ridículas e inconcebíveis.

_____Os meus filhos fazem-me estes desafios imensas vezes, e sinceramente, detesto. E fujo sempre a responder, porque me põem numa situação de conflito interno, e porque as perguntas e as escolhas são fora da caixa, completamente.

_____Mas aqui até tive fácil resposta, pensava eu...

_____A pergunta era, se preferia receber meias de todas as pessoas, todos os natais até ao resto da minha vida ou receber as prendas como habitualmente, mas apenas de três em três anos.

_____A mim pareceu lógica a resposta, de três em três anos. Nem achei a escolha difícil como por vezes os meus rapazes me dão a escolher. Mas curiosamente houve entre os locutores diferentes escolhas.

_____Vinha a matutar nisto no caminho, de como tantas vezes ouço brincar sobre receber meias no Natal (aqui entre nós, eu adoro receber aquelas felpudas e pijamas quentinhos) e muitos, olham para elas e torcem o nariz.

_____E lembrei da minha avó Rosa...

_____Já aqui escrevi noutras crónicas sobre a minha avó Natália, hoje falarei das meias da minha avó Rosa.

_____Minha avó Rosa, tinha a única loja da aldeia, taberna, mercearia, padaria, charcutaria, tudo o que se possa imaginar, enfim... como era habitual naquela época, nas aldeias.

_____Ficou viúva muito nova com seis filhos pequenos, e teve de ter pulso firme e ser forte por ela, e por eles.

_____Lembro de ainda ser miúda, e ela no Natal dar um par de meias, aos filhos, noras, genros e netos, da marca “Coroa” lembro tão bem. Umas meias, apenas isso.

_____Mas não era apenas isso...

_____Hoje brincamos com receber meias, mas ao ver mais friamente (ou não) a situação, ela sozinha, sem tempo, cansadíssima, com uma família numerosa, dava esse mimo a todos, sem excepção.

_____E como gostaria tanto de voltar a receber um par de meias dela... nem que nunca mais recebesse qualquer outra prenda no Natal. Bastava-me um par, vindo de suas mãos, porque estaria aqui, ainda, entre nós.

_____Por isso, voltando ao desafio. Se preferia receber prendas de três em três anos ou meias de todas as pessoas, todos os meus restantes natais?

_____Mudo minha resposta. MEIAS, indiscutivelmente, e bastaria, apenas, um par...




 


 

 TEXTO: Ana Acto 

FACEBOOK: http://www.facebook.com/anaacto 

Ana Acto, nasceu a 5 de abril de 1979 em Tomar, Portugal. Abriu em 2018 nas redes sociais uma página de autora com o seu nome onde partilha a sua escrita em poesia, prosa poética e reflexões. Escreve-nos sobre a vida, e sobre o amor em todas as suas vertentes, romantismo, perda, esperança e sensualidade. Participante ativa em saraus e tertúlias poéticas e coautora em mais de vinte obras coletivas. Lançou em 2020 o seu primeiro livro de poesia, intitulado “NUA”. Para além do gosto pelas letras, tem diversas formações em terapias holísticas e alternativas. 

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A articulista atua como Colaboradora deste Blog e o texto acima expressa somente o ponto de vista da autora, sendo o conteúdo de sua total responsabilidade.

                                                 

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