Carnaval ou Entrudo

"Os mais extrovertidos mascaravam-se com roupas que tinham à mão. Ninguém imaginaria ir comprar um traje para brincar ao Carnaval! Nem havia nada para comprar, pelo menos nos meios mais pequenos." 


REVISTA VICEJAR – LITERATURA ( Crônica ) 




_____Uma tradição secular que o tempo tem transformado mas que, apesar das influências vindas do outro lado do Atlântico, tem tendência a ser perpetuada principalmente nas cidades e vilas do nosso País.

_____No século passado era uma festa muito simples e popular. Não havia os chamados cortejos carnavalescos que hoje atraem muitos turistas nacionais e estrangeiros pela variedade de motivos decorativos, coloridos e com design requintado que dinamizam a vida das comunidades que neles participam.

_____Apesar da distância que me separa da minha terra, sigo com muita atenção o que Elvas vai fazendo na quadra Carnavalesca mobilizando todos os munícipes para terem uma participação ativa e não apenas serem meros espetadores.

_____Isso tem tornado conhecido e falado o Carnaval de Elvas que atrai à cidade gentes de diversos lugares, nacionais e espanhóis. Creio que são ocasiões únicas de promoção cultural e comercial da nossa região e, com folia, poder divulgar o que de melhor e mais interessante há no nosso concelho.

_____Como referi, no século passado, os carnavais ou entrudos que vivi na minha Aldeia eram festejos muito simples mas também muito divertidos.

_____Os mais extrovertidos mascaravam-se com roupas que tinham à mão. Ninguém imaginaria ir comprar um traje para brincar ao Carnaval! Nem havia nada para comprar, pelo menos nos meios mais pequenos.

_____Os homens gostavam de se mascarar de mulheres. As mulheres apareciam enfeitadas com belos xailes de merino, cordões de ouro ao pescoço, lindos brincos compridos também de ouro.

_____Os homens, mais atrevidos, sujavam as mãos com carvão ardido e, à traição, mascarravam as raparigas. Elas usavam a farinha para os enfarinharem e não faltavam os “confétis” sobre as cabeças de todos.

_____Mas a festa era muito mais do que estas brincadeiras. Faziam-se grandes bailaricos de roda nos largos da Aldeia a toque de harmónica.

_____Havia outra tradição que era a “dança da cantarinha de barro”. Lindas vozes de homens ou mulheres iam cantando pelas ruas da Aldeia ao desafio e ao mesmo tempo iam passando a cantarinha uns aos outros de mão em mão.

_____São recordações que guardo da minha meninice. Lembro-me de ainda andar nessas brincadeiras no domingo Gordo e na Terça-feira Gorda.

_____Associado aos festejos do Carnaval estavam os alimentos que toda a gente comia quase como se fosse um ritual. As sopas de bucho não podiam faltar! Aproximava-se a Quaresma e era um sacrilégio comer carne nesse período.

_____Enfim, coisas que já lá vão e nunca mais serão iguais. Perdeu-se um pouco da simplicidade e pureza mas ganharam-se outros costumes que são fruto da evolução e do conhecimento de outras gentes e outras culturas. Vamos assimilando e fazendo uma miscelânea que agrada às novas gerações.

_____Afinal, o que importa é semear um pouco de luz e cor na vida de todos. Bom Carnaval!


Graça Foles Amiguinho nasceu em 13 de fevereiro de 1946, em Santa Eulália - Elvas, Portugal. Foi graduada no Curso de Magistério Primário, em 1965, tendo trabalhado em várias escolas no Alentejo, até 1969, e posteriormente vivendo e trabalhando no Distrito do Porto. Em 1984 teve um Programa semanal, numa Rádio Local de Gaia, intitulado “Pontos nos iis”, sobre Educação. Em 2005 editou o primeiro livro de Poesia “O Meu Sentir”. Em 2015, começou a escrever, semanalmente, uma Crónica, no jornal online, Elvasnews. Em 2018, editou o segundo livro de Poesia “Alma Alentejana” e musicou diversos poemas. Em janeiro de 2019, foi lançada a primeira Colectânea, que organizou com 41 autores, “Elvas à Vista”, musicando um poema para cada poeta inscrito. Em setembro de 2019, foi apresentada a segunda Colectânea, com 67 autores, de Portugal e Extremadura Espanhola, “Eurocidade, Badajoz, Elvas, Campo Maior” sob a sua coordenação, musicando vários poemas. Em fevereiro de 2020, editou o terceiro livro de Poesia “Não te disse Adeus” e musicou 6 poemas. Em setembro de 2020, organizou a terceira Colectânea “Raia Luso Espanhola, Literatura e Artes”, com 48 autores Portugueses e Espanhóis da Extremadura e Galiza, tendo musicado 6 poemas. Em dezembro de 2020, após ter contraído Covid, gravou em estúdio, o poema, com música sua, “Foram dias, foram anos”. Em fevereiro 2021, gravou o poema e música “Meu Alentejo Raízes ” e, ainda, foi convidada a colaborar no Blog online de “De Vella A Bella”, da Galiza. Em setembro do mesmo ano foi lançada a Colectânea “Cultura sem Fronteiras”, sob a minha alçada. A par da Colectânea, musicou 9 poemas de autores e 3 meus, e gravou o seu primeiro CD. Lançou a sua obra em Prosa e Poesia “Meu Alentejo, Saudade”. Também começou a colaborar, mensalmente, com uma Crónica, na revista “O Lusitano” de Zurique, como convidada. Tem outra obra, em colaboração com seu filho Rui Miguel Amiguinho Barros, intitulada “Poesia e Arte”, já editada. Ainda em 2022 será editada a primeira obra para crianças, "Cães e Gatos, Animais de Estimação". Em 2023 sairá o seu primeiro romance, "O Amor na Guerra". 

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