Fingimento crônico

“Digo e direi sempre, o mundo é bom, só assim entenderá, a importância de deixar a porta da tua casa aberta, nos dias ensolarados de domingo.”

REVISTA VICEJAR – LITERATURA ( Crônica ) 




_____Agora é noite, ruídos distantes me lembram as penúrias da cidade. Um vento manso chama a cortina da janela para dançar. Lá fora, apenas o mundo com seus personagens e enredos. Sobre a linha do horizonte, ladeada de nuvens, poderíamos ensaiar alguns passos. Minha melodia é o teu silêncio, quanto ao resto, temos apenas o sonho. Temos apenas um ao outro, nessa ciranda da vida.

_____Finjo que o mundo é bom. Só para você não ter medo de distribuir seu lindo sorriso. Digo e direi sempre, o mundo é bom, só assim entenderá, a importância de deixar a porta da tua casa aberta, nos dias ensolarados de domingo.

_____Eu finjo e não me arrependo. Meu fingimento é para que não tenhas medo de viver. Por isso te peço, não tenhas receio de acariciar os gatos de rua nem de correr atrás dos pombos que habitam as praças. No entanto, saibas, meu fingimento não te protege. Ele te encoraja a espiar os aviões e a caçar vaga-lumes no espaço da noite.

_____O mundo é esse, eu finjo que ele não te fará mal. Saia do quarto, caminhe pelas alamedas e devolva a bola de futebol aos garotos. O planeta roda e nós apenas nos sentimos zonzos e embriagados, pela rigidez de viver.

_____Agora é madrugada, os grilos cricrilam felizes. Você já prestou atenção de como a natureza conversa com você? Finjo que tudo necessita valer a pena, justamente para que compreendas, o amor sempre será um sentimento forte e, ninguém pode, em hipótese alguma, desistir de sonhar.

_____Confesso a você, vou fingir até cerrar meus olhos, mas quero que acredites, o mundo ainda é bom, ouça as buzinas dos homens, o tilintar dos talheres anunciando o jantar.

_____Finjo com você sorrisos e choros, escrevemos frases de amor e fé. Admiramos as estrelas e os outros astros, escalamos esperança, dormimos entre promessas. Tudo isso, apenas para esquecermos, dessa indomável tristeza, que nos assombra.


 TEXTO: Mayanna Velame 
INSTAGRAM: @portugues_amoroso 
Mayanna Velame nasceu em Manaus, em 1983. É graduada em Letras - Língua Portuguesa, pela Universidade Federal do Amazonas. É autora do livro "Português Amoroso" (Editora Madrepérola/Maio de 2020). Escreve periodicamente contos, crônicas e poesias para os sites: "Revista Vicejar", "Revista Conexão Literatura", "Texto Garagem" e "Corvo Literário".
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A articulista atua como Colaboradora deste Blog e o texto acima expressa somente o ponto de vista da autora, sendo o conteúdo de sua total responsabilidade. 

             
                       

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