Em quem nos estamos a tornar

"Terão as crianças uma linguagem complexa? Um código que só elas sabem? Porque a mim, parece bem simples e funcional."


REVISTA VICEJAR – LITERATURA ( Crônica ) 



_____Ao passar o feed de notícias nas redes sociais, deparei-me com uma publicação que me prendeu logo na primeira frase, talvez porque tenha vindo ultimamente a refletir sobre isso, e porque me relembrou de algumas conversas. 

_____Deixo-vos aqui o texto dessa publicação: 

_____ “As pessoas estão perdendo a habilidade de dialogar e de conhecer o outro. Elas ouvem, mas não escutam; falam, mas não se deixam conhecer; esbarram-se, mas não se veem; e uma multidão caminha solitariamente em direção a lugar nenhum. Conviver é uma arte tão sutil quanto a música, a literatura, a pintura ou o teatro e que poucos aprenderam a dominar. Infelizmente, nas escolas não há disciplinas que ensinam a nos relacionar. A dificuldade de entrar no mundo alheio está criando uma geração de pessoas impacientes e distantes. Ao perdermos a generosidade de respeitar diferentes pontos de vista, transformamos a convivência em família, os casamentos e os negócios em verdadeiros campos de batalha, em que o outro passa a ser o inimigo... a competição selvagem, em que valores humanos são destruídos, só vai terminar quando aprendermos a conviver com a adversidade...” (Roberto Shinyashiki) 

_____E é isto que me tem “perseguido” nos últimos tempos, em quem nos estamos a tornar, ou dizendo melhor, em quê... 

_____Comunicar é algo inato ao ser humano, aprendemos desde o nascimento a fazê-lo. Se choramos, somos confortados. Se sorrimos, mesmo desdentados, iluminamos rostos e aquecemos corações, ou com simples gestos, transmitimos o que queremos. 

_____Numa conversa de circunstância, um dia destes, alguém me dizia que levara a filha a um parque num jardim público, e momentos depois, já ela andava a brincar com outras crianças, que ali estavam, como se fossem amigas desde sempre. 

_____Terão as crianças uma linguagem complexa? Um código que só elas sabem? Porque a mim, parece bem simples e funcional. Na verdade, basta olharem umas para as outras, sorrirem, ou até apenas se entreolharem, e está dado o passo, a abertura e a aceitação, simples assim. 

_____Já noutra conversa, sobre a sensibilidade das árvores ao corte, foi-me explicado como se comunicam, e fiquei fascinada. 

_____Comunicam-se através de um fungo, que se chama micélio ou micorriza, e que se expande no subsolo criando uma rede de conexão entre todas as espécies de plantas, algo que lhes permite não só se comunicarem, mas também se cuidarem, protegerem, e se alimentarem. 

_____ “Quando uma árvore da floresta é cortada, este micélio comunica às demais árvores da floresta que uma delas está a morrer e todas as outras árvores através do micélio começam a cuidar do tronco remanescente para tentar salvar aquela vida. Eles o alimentam, dão água, protegem. Porque aquele tronco moribundo faz parte da família da floresta.” 

_____E entre o texto que li no feed sobre como comunicamos (ou não) atualmente, e estas conversas fico a pensar... 

_____Tantas formas de linguagem diferentes, mas igualmente universais. 

_____E, no entanto, aqui estamos, nos desculpando com a sociedade em que vivemos... 

_____Só nos esquecemos de um pequeno pormenor, a sociedade somos nós... 




 


 

 TEXTO: Ana Acto 

FACEBOOK: http://www.facebook.com/anaacto 

Ana Acto, nasceu a 5 de abril de 1979 em Tomar, Portugal. Abriu em 2018 nas redes sociais uma página de autora com o seu nome onde partilha a sua escrita em poesia, prosa poética e reflexões. Escreve-nos sobre a vida, e sobre o amor em todas as suas vertentes, romantismo, perda, esperança e sensualidade. Participante ativa em saraus e tertúlias poéticas e coautora em mais de vinte obras coletivas. Lançou em 2020 o seu primeiro livro de poesia, intitulado “NUA”. Para além do gosto pelas letras, tem diversas formações em terapias holísticas e alternativas. 

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A articulista atua como Colaboradora deste Blog e o texto acima expressa somente o ponto de vista da autora, sendo o conteúdo de sua total responsabilidade.

                                                  

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