"Para buscar você, nos destinos da vida, eu pisava fundo no acelerador, como se tal atitude, pudesse antecipar nosso encontro."
REVISTA VICEJAR – LITERATURA ( Crônica )
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_____Chave na ignição, minhas pernas tremulam no ritmo do motor. O automóvel de cor chumbo, logo ganhará as ruas e avenidas dessa cidade, que nem conhece e muito menos sabe meu nome. No banco carona, embora exista apenas o vazio. Eu ainda sinto o peso da tua presença, o emanar do teu perfume e a tua insistência em mudar a estação da rádio.
_____Eu nunca me importei com essa tua mania, em não concordar com meus gostos musicais. Até porque, havia teu corpo aqui, ao meu lado, com teus olhos graúdos e sensatos, a examinar as idas e vindas das trocas de marchas.
_____Hoje, esse banco carona traz algumas reminiscências, que agora, são elas que se assentam, acompanhando-me aonde quer que eu vá. Esse carro sabe muito bem, de quantas viagens nós realizamos. E você, de vez em quando, emitia palpites do meu dirigir, atiçando minha interminável paciência.
_____O velocímetro dispara, feito um coração, que deseja ardentemente bater, por algum motivo. Durante vários momentos, esse carro foi meu divã. Testemunhou sua chegada e sua despedida. Flagrou teus choros, fotografou teus sorrisos, concordou com tuas penalidades e fraquezas.
_____Em meio ao caos do trânsito, dirigir na tua companhia, foi meu maior presente. E tu, se bem me lembro, colocavas o cinto de segurança, não por medo das minhas manobras. Mas na certeza, que o improvável sempre pode nos acometer.
_____Para buscar você, nos destinos da vida, eu pisava fundo no acelerador, como se tal atitude, pudesse antecipar nosso encontro. Torcia para os semáforos permanecerem verdes e se fosse para te deixar em casa, desejava engarrafamentos para tardar tua ida.
_____Agora, suponho que todos os quilômetros percorridos, estão gravados para sempre nas esquinas que cruzamos. Na velocidade do tempo, demos nossa largada, contornamos curvas, tracejamos linhas retas.
_____Aos solavancos, não nos atentamos, que a faixa de chegada fora previamente desenhada. E que frear, foi a única solução moderada. O carro ainda acelera, é só mais um automóvel a seguir, nas ruas dessa metrópole que nos ignorou. Ele segue no seu ritmo, numa velocidade pertencente só a ele, e não mais, a história de nós dois.
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