O maior trem do mundo

"Meu trem segue sinuoso, os vagões se requebram. Um anjo torto diz que é preciso ser poeta, mesmo quando há uma pedra no meio do caminho." 

REVISTA VICEJAR – LITERATURA ( Crônica )  

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_____Vou pegar o maior trem do mundo. Cruzar e subir as serras pontiagudas de Itabira, tomar meu café quente com pão de queijo, recitar Drummond e todo o sentimento do mundo. Ele disse que amar se aprende amando. Então, vou até Órion e te trazer uma estrela de presente, ou quem sabe, buscar uma Rosa do Povo, para perfumar a estante da tua biblioteca.

_____Meu trem segue sinuoso, os vagões se requebram. Um anjo torto diz que é preciso ser poeta, mesmo quando há uma pedra no meio do caminho. Falam que poeta tem um quê de melancolia. Por isso, não se mate, Carlos! O amor é um Claro Enigma. E nessa quadrilha, João amava Teresa que amava Joaquim...

_____Danço versos e viajo nesse trem maior do mundo. Em cada estação, embarca um poema. E as sete faces de cada passageiro, vejo aqui refletidas nas janelas — que exibem fantasmas de nós.

_____Mas o que preciso mesmo, Carlos! É contemplar o rio Doce. Mais vale um vale de prosa, do que um vale de minério. E esse trem serpenteando, aninha-se nas entranhas desses morros, com suas minas vazias e meu coração entristecido.

_____E agora, José? Sabe Deus, o que será? Nas incertezas, só me contento em entender, se o destino dessa viagem, continuará a ser redigido em estrofes. Para cada estação, levo esses versos de Itabira.

_____Ah, Carlos! Meu coração prossegue modernista, assim como você. E eu me resumo e te estudo, nas tuas fases. É verdade, Carlos! O mundo é vasto e você não se chama Raimundo. Você não é uma rima e nem mesmo uma solução.

_____Tu és gauche, porque essa é a sina de ser poeta. Ver o mundo com os olhos de ternura e compaixão. Escrevemos a vida, mas é ela quem nos traça o verso final. É Carlos, esse trem apita, grita, anuncia a nossa partida.

_____Seguimos e vamos aonde? Se a festa acabou, nada mais nos resta. Itabira, agora vai ficando para trás, com suas serras e vales, ruas e casinhas que sorriem ao lado dos postes.

_____Adeus, Itabira! Você pode ter perdido seu ouro, mas não o seu poeta...

[_IMAGEM:_https://www.minasgerais.com.br/pt/atracoes/itabira/estatua-fazendeiro-do-ar_]


 TEXTO: Mayanna Velame 
INSTAGRAM: @portugues_amoroso 
Mayanna Velame é escritora, poeta e professora nascida em Manaus. É autora dos livros: "Português Amoroso" (2020) e "Cactos e Tubarões" (2023). Foi finalista do Prêmio Selo Off Flip (2022), na categoria conto e vencedora do 6º FLIM (2023), promovido pela Academia Volta-redondense de Letras com o conto: "Professor Jeremias Bartolo". 
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