REVISTA VICEJAR – LITERATURA ( Crônica )
_____Cartas, telegramas, cartões postais eram formas usuais de comunicação nos anos sessenta.
_____Criança, fascinava-se com os cartões enviados à sua mãe pelo tio, estudante em Londres, os quais, dentre relatos variados, contava as semelhanças físicas desta com a rainha Elisabeth II ambas jovens e com impecáveis portes.
_____A menina amava as imagens daquela longínqua cidade, sede de um reino real, formado por quatro países onde sua majestade era respeitosamente amada pelos súditos.
_____Durante alguns anos os postais fizeram parte da conversa familiar, no entanto, com o retorno do tio ao Brasil, aquele encanto foi morar em uma gaveta junto a outros fragmentos da rotina materna.
_____Mudaram temas, contentamentos, no entanto, para ela, os cartões seguiam permeando fantasias. Imaginava-se atravessando o Atlântico, o Canal da Mancha, ruas e estradas até conhecê-los.
_____O tempo, aos sonhos, agregou projetos; foi estudar na Capital. Ao tornar-se universitária, batalhou e conseguiu uma bolsa de estudos para cursar pós-graduação em “Planejamento Turístico” na cidade de Roma.
_____Concluídos os estudos na Itália, realizou merecida viagem de férias cuja última atração do roteiro foi Londres. Assim, em uma memorável manhã de verão, na companhia de uma amiga equatoriana, ali aportou. Durante a chegada, seu cérebro flutuava entre o olhar fantasioso da criança e a juvenil percepção da vida aos vinte e poucos anos de idade.
_____Naqueles dias, entre prédios centenários, cabines telefônicas e ônibus de dois andares vermelhos, taxis “black cabs”, com direções do lado direito e pessoas cordiais, Londres foi se descortinando.
_____Visitou o Palácio de Westminster (sede das Casas do Parlamento da Grã Bretanha). Foi emocionada pelos imponentes toques dos sinos do Big Ben, símbolo maior da pontualidade britânica.
_____Pacientemente esperou a Tower Bridge se abrir à passagem de uma embarcação. Assistiu a troca de guardas, suas marchas clássicas e marcantes no Palácio de Buckingham, residência oficial da rainha.
_____Fez caminhadas às margens do rio Tâmisa, entre canteiros de rosas do Hyde Park. Na Trafalgar Square, vestiu-se com a alegria dos jovens músicos punks de cabelos coloridos que, alheios a contrastes sociais do capitalismo, celebravam a festa da vida.
_____Assim, os dias transcorreram entre elegantes cenários, rostos e sons de um inglês bem articulado. Em sua última noite londrina, contemplou luzes celestiais e urbanas; a harmonia do que ali permanecia eterno. No seu mundo tropical, era provável que, brisas atlânticas já estivessem destilando aromas de amanhecer.
_____Na manhã cinza, às 10:00, saiu do aconchegante hotel em direção ao aeroporto. O abraço na amiga, que seguiria para Bélgica antes do retorno à Quito, simbolizava gratidão e despedida àquele importante ciclo compartilhado. Ela faria escala em Lisboa para retornar ao Brasil, Recife, Triunfo...
_____Da janela do avião, entre nuvens, via Londres e seus cartões postais desaparecendo; como em um jogo de quebra cabeças, as peças foram completadas.
_____Aconchegou-se no assento e adormeceu em paz com os caprichosos desenhos que a vida costuma fazer.
Liège Costa de Melo Ferreira, brasileira, nasceu em Triunfo-PE, reside em Recife-PE. É graduada em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco e em Turismo pela Universidade Católica de Pernambuco. Pós graduada em Obrigações e Contratos pela Universidade Federal de Pernambuco e em Planejamento Turístico pela Scuola Internazionale de Scienze Turistiche de Roma – Itália. Trabalhou nos setores público e privado de Recife e Natal-RN. É poeta e cronista. Na adolescência escreveu seus primeiros versos. Em 2011 estreou no mundo editorial com o poema Ledos Devaneios, classificado no 1° Concurso Nacional Novos Poetas – Prêmio Augusto dos Anjos, promovido pela Videira Editora (Cabedelo–PB). Desde então, tem participado de múltiplas obras poéticas no Brasil e exterior. No universo on line participa de blogs, páginas e grupos literários. Em 2016, seu primeiro livro de poemas: Ledos Devaneios, foi publicado no Brasil, através da Editora Novo Estilo (Recife-PE). Em 2020 publicou ROTAS POÉTICAS, no Brasil e Portugal, através da IN FINITA LISBOA.
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